segunda-feira, fevereiro 22, 2010

"As regras da vida são um segredo, mas as dos homens são mais segredo ainda: porque as mulheres (mesmo sem saberem) sabem tudo.
A primeira regra é aprender que as coisas que nos agradam, a nós homens,- desde a amizade e à estupidez masculina, ao futebol - não agradam às mulheres.
Nós vivemos com certezas; senão, morríamos. As mulheres vivem do prazer da curiosidade; da possibilidade de surpresa; da insatisfação de saber.
Quanto mais mulheres um homem conhece - por muito que custe ao paradoxo - mais aprende que mais ganha em nada saber das mulheres.
Mais vale partir do princípio que se sabe bastante sobre os seres humanos - mas muito pouco acerca do sexo feminino. A vantagem da ignorância, da curiosidade e da tesão é uma questão de experiência. O que é necessário é lamentar que, por muito que ela seja, continuamos na mesma.

(...)

... as mulheres têm muitas aberturas; muitas entregas; muitas exigências.
Mas só se dão a quem confiam. A confiança é o ingrediente erótico mais secreto.
Os homens querem fugir - e fazem mal. As mulheres querem confiar - e fazem mal. É nesse desequilíbrio, igualado pelo facto de ambos os sexos se darem mal, que se encontra a grande electricidade que nos junta e dá pica e desconjunta. A maior parte dos homens - sobretudo os mulherengos - morre sem saber o que é receber o que uma mulher pode dar. Uma mulher inteira - alma e tudo - pesa mais do que dois homens.
É mais profunda e, ao mesmo tempo, mais volúvel. Não tem a obsessão pela escolha e pela definição que têm os homens. É volátil. Quer voar. Quer evaporar-se. Quer sair dali para fora e ser outra coisa.
Podemos passar a vida a enganar as mulheres (e vice-versa) e é prazenteira tal existência. Mas convencê-las - e elas convencerem-nos a nós, por serem tão mais violentas e peremptórias do que nós - é outra história.
As regras da vida são um segredo - mas não se pode dizer que estejam escondidas em nós. A chamada "sedução" (uma palavra horrível, que não leva a nada) não é mais do que a transmissão plaisível de uma convicção fatal. Tendo tido a sorte do amor, nunca aproveitei estas lições.
Mas são elas que mandam.
São elas que mandam em todos nós.
Pensar nas mulheres como sendo homens (e em ambos como sendo os únicos seres humanos que se conhecem e, com grandíssimos filtros, se devem conhecer) é o primeiro passo para quem quer saber o que as mulheres podem dar.
E nós darmos. Sem notar, no meio do êxtase - que se quer rotineiro - que andamos todos ao mesmo.
E que esse mesmo é a melhor coisa que fazemos."

Miguel Esteves Cardoso

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